Centenário
Dom Aloísio Lorscheider
Dom Aloísio Lorscheider foi um frei da Ordem dos Franciscanos Menores e Cardeal da Igreja Católica. Atuou no Concílio Vaticano II, foi presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil por dois mandatos e chegou até mesmo a ser votado em um conclave, votação que escolhe papas.
Atuação
Sua atuação foi fundamental para colocar a Igreja Católica ao lado dos mais vulnerabilizados, enaltecendo a escolha evangélica de opção preferencial pelos pobres e oprimidos. Durante a ditadura civil militar, atuou na presidência da CNBB posicionando a entidade na defesa dos direitos humanos.
Neste contexto de mobilização em torno do reconhecimento de suas identidades indígenas, o povo Tapeba articulou contatos com a então Equipe de Assessoria às Comunidades Rurais, da Arquidiocese de Fortaleza. Resultado deste encontro nasceu a Equipe Arquidiocesana de Apoio à Questão Indígena – que passou a atuar em Caucaia e, pouco depois, entre os povos Tremembé (Itarema), Pitaguary (Maracanaú e Pacatuba) e Jenipapo-Kanindé (Aquiraz), que também se organizaram na segunda metade da década de 1980.
Como Arcebispo de Fortaleza, Dom Aloísio foi um dos grandes apoiadores dos povos indígenas no Estado. Ele utilizou de sua posição e prestígio para dar visibilidade às causas desses povos e construir pontes com as autoridades locais e nacionais, sensibilizando-as para a importância do respeito aos direitos e à identidade dos povos originários. Sob sua liderança, a Pastoral Indigenista se tornou um espaço fundamental de apoio, atuando diretamente na mobilização e organização das comunidades indígenas.
Em 1994, com a separação do CDPDH da Cáritas Arquidiocesana, a Pastoral Indigenista foi incorporada à entidade, transformada na equipe da Temática Indigenista. Continuaram as atividades da Pastoral, através da assessoria jurídica e do acompanhamento dos processos judiciais de demarcação das terras, reuniões com lideranças, formação política, realização de eventos e apoio ao fortalecimento dos processos de organização comunitária dos povos indígenas.
Em 1979, Dom Aloísio Lorscheider presidiu a Conferência Episcopal Latino-Americano quando ocorreu a simbólica Conferência de Puebla.
"3.3. Não é pois por oportunismo nem por afã de novidade que a Igreja, "perita em humanidade" (Paulo VI Discurso na ONU, 5.10.1%5), é defensora dos direitos humanos. É por um autêntica compromisso evangélico, o qual, como sucedeu com Cristo, é, sobretudo, compromisso com os mais necessitados. Fiel a este compromisso, a Igreja quer manter-se livre diante dos sistemas opostos para optar só pelo homem. Quaisquer que sejam as misérias ou sofrimentos que aflijam ao homem; não através da violência dos jogos do poder, dos sistemas políticos, mas por meio da verdade sobre o homem, caminha para um futuro melhor.” (Documento de Puebla)
Dom Aloísio posicionou a Igreja ao lados do povos indígenas do Ceará. Se fez presença e ecoou o grito daqueles que os poderes constituídos insistiam em dizer que não existiam mais. Seu legado hoje está vivo e em toda a luta e resistência que a coletividade e espiritualidade insistem em empreender.
Em cada território demarcado, floresta preservada e população indígena fortalecida, se faz presente a vida do simples frei que se tornou cardeal, mas que optou não pelo poder e os palácios, mas por ser presença apostólica da Igreja na vida dos irmãos que mais sofrem.
Políticas públicas
A partir dos anos de 1980, nascia o movimento indígena no Ceará, através da mobilização política de povos que se acreditava terem sido “extintos” desde fins do século XIX. Liderados pelo povo Tapeba, seguidos pelos Tremembé, Pitaguary e Jenipapo-Kanindé, estes povos uniram suas forças para exigir respeito, lutar por direitos e pela demarcação de seus territórios.
Simbolizada na figura emblemática de Dom Aluísio Lorscheider (1924-2007), a Pastoral Indigenista teve um papel fundamental no fortalecimento destas primeiras mobilizações por reconhecimento étnico no Ceará.
Ao se deparar pela primeira vez com os povos indígenas, Dom Aloísio Lorscheider foi inicialmente tomado de surpresa, depois iniciou um trabalho de acompanhamento enviando uma equipe da Arquidiocese de Fortaleza para conhecer a realidade daquele povo e percebendo que não havia extinção, mas um processo de silenciamento e exclusão dos povos originários do Ceará.
Sua plataforma de direitos humanos pode ser refletida inclusive em momentos históricos da Igreja Católica.
Dom Aloísio foi presidente da CNBB durante a ditadura civil militar brasileira e lutou por respeito à dignidade humana. Ele presidiu o Conselho Episcopal Latino-americano durante a realização da Conferência de Puebla em 1979. Puebla confirmou a opção evangélica preferencial pelos pobres e a necessidade da luta contra as desigualdades sociais e a efetivação dos direitos humanos.
Na Arquidiocese de Fortaleza, Dom Aloísio Lorscheider empreendeu a luta por moradia, pelos direitos dos migrantes, a favor da população em situação de rua, por dignidade para a população carcerária, sempre focando na necessidade de organização dos sujeitos, na busca por autonomia e defesa de seus direitos.
A luta dele permanece viva em todo o processo de organização do movimento indígena do Ceará. Nos territórios que estão na posse das comunidades, nas delimitações territoriais, nas escolas indígenas existentes e na formação do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.
Com seu apoio as lideranças indígenas realizaram suas primeiras assembleias, formaram suas associações e formaram uma importante corrente de unidade, que une povos na defesa dos direitos coletivos, resistindo contra a violência e os ataques.
A luta indígena é atual e a presença de Dom Aloísio é uma constante, pois como diz o Cardeal Lorscheider: "Precisamos trabalhar sempre a comunhão e participação, para podermos chegar à verdadeira e autêntica libertação."
A influência de Dom Aloísio na luta indígena é uma lembrança do papel que figuras comprometidas com a justiça podem desenvolver na transformação social e na construção de um mundo mais inclusivo e respeitoso.
Hoje, o movimento indígena cearense continua a luta por reconhecimento e por seus direitos, fortalecendo um legado que começou há mais de quarenta anos e que é, em grande parte, marcado pela determinação e pelo apoio de Dom Aloísio Lorscheider.
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ACERVO CDPDH.ORG
Pesquisa e redação
João Paulo Vieira
Kelanny Oliveira de Morais
Lucas Guerra Carvalho de Almeida